Dedicado especialmente aos meus filhos , netos e amigos, aqui se encontram muitos anos de vida, muitas nacionalidades, muitas viagens, belissimos pratos, deliciosas bebidas e muitos encontros ao redor da mesa.

"Savoir vivre, boa mesa, bellissimi vini."

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Literatura e gastronomia -a mesa de Humberto Eco

Para aqueles que gostam de gastronomia e literatura, o livro Cemitério de Praga, do autor Humberto Eco é uma grata surpresa. O personagem Simonini passeia pelos restaurantes de Paris do fim do sec.XIX, (alguns ainda existem, pg. 181) descrevendo seus cardápios, mencionando receitas, que pela coerência, devem ser da mesa do autor.
Vejam que legal este trecho do livro:
"Recordo mesas grandes, se não alegres ao menos contritas, nas quais os bons padres discutiam so-
bre a excelência de um cozido misto que meu avô mandara preparar.
Eram necessários ao menos meio quilo de músculo de boi, um rabo, alcatra, salaminho, língua e cabeça de vitela, linguiça, galinha, uma cebola, duas cenouras, dois talos de aipo e um punhado de salsa. Deixava-se cozinhar tudo por tempos diferentes, segundo o tipo de carne. Porém, como lembrava vovô, e padre Bergamaschi aprovava com enérgico acenos de cabeça, assim que o cozido era colocado na travessa, para ser levado à mesa, era preciso espalhar um punhado de sal grosso sobre a carne e derramar nela algumas conchas do caldo fervente, para ressaltar o sabor. Poucos acompanhamentos, exceto umas batatas, mas eram fundamentais os molhos; podiam ser de mosto, de rabanete ou de frutas com mostarda, mas sobretudo (vovô não transigia) o molhinho verde: um punhado de salsa, quatro filés de anchova, miolo de um pãozinho, uma colher de alcaparras, um dente de alho, uma gema de ovo cozido. Tudo finamente triturado, com azeite de oliva e vinagre."

Ele menciona os restaurantes de Paris de forma muito atraente.
Na pg. 198, menciona o restaurante Laperouse:
"Dirigiu-se o mais rápido possível ao Laperouse, no quai des Grands Augustins, e se instalou não no térreo, onde eram servidas ostras e entrecôtes como antes, mas no primeiro andar, em um daqueles cabinets particuliers em que se consumiam barbue sauce hollandaise, casserole de riz à la Toulouse, aspics de filets......."
Nossa,  dá vontade!
Mas o Laperouse está lá nos esperando. Vejam uma foto atual.

E, por fim, só mais um trechinho do livro:
- Meu filho jamais compreenderá a beleza desse boi com cebolas, cenouras, aipos, sálvia, alecrim, louro, cravo, canela, zimbro, sal, pimenta, manteiga, azeite de oliva e , naturalmente, uma garrafa de Barolo, servido com polenta ou purê de batatas."(pg.80)

Leiam o livro. É uma experiência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário